Histórico Cultural e Ambiental

Inicialmente, a região de abrangência do projeto se desenvolveu com a imigração de suíços e alemãs que vieram para Nova Friburgo, a partir de 1820, por incentivo da família real portuguesa.

Esses imigrantes atravessaram o oceano em veleiros, sob péssimas condições. Muitos receberam lotes situados entre montanhas e abismos, em terras impróprias para o cultivo. Algumas famílias seguiram para o vale do Rio Macaé, onde fundaram as vilas de Lumiar e São Pedro da Serra, em 1822.

Neste processo, conforme afirma o historiador Jorge Miguel Mayer:

“os suíços foram mais colonizados do que colonizadores, absorvendo a cultura interiorana, adotando as queimadas, a casa de pau-a-pique, a alimentação fundamentada na mandioca, no milho e no inhame trazido pelos escravos.”

Destaca-se a típica arquitetura local, que traz o modo de vida de um povo marcado pela carência material e por dificuldades estruturais, com as casas de pau a pique, que são um patrimônio cultural, construídas sobre bases de madeira ou de pedra em uma pequena elevação do terreno, para proteção da umidade e do frio.

A primeira igreja católica de Nova Friburgo está em São Pedro da Serra, interessante ponto turístico, juntamente com o coreto e o casario antigo preservados pelas famílias tradicionais, patrimônios históricos da vila. Em Lumiar, além das belíssimas construções características do período colonial, como o casarão situado em sua praça central, encontramos a sede da Sociedade Musical Euterpe Lumiarense, fundada em 1891, hoje ponto de cultura ativo para a formação musical de jovens e adultos.

03igreja
coreto-sao-pedro-serra

As vilas de Lumiar e São Pedro da Serra disputaram a condição de sede do distrito de Lumiar, o mais antigo de Nova Friburgo, criado em 1889, o que implicou na alternância do cartório por sete vezes, ora em um, ora em outro lugarejo, por conta das disputas políticas entre as famílias de maior poder local. Em 1931, Lumiar se torna sede do distrito e, em 1987, é criado o 7º distrito de Nova Friburgo, São Pedro da Serra, em terras desmembradas de Lumiar.

Ambas as vilas permaneceram em relativo isolamento até meados do século XX. A produção agrícola era escoada por tropas de mulas que levavam café, carne de porco, feijão, farinha de mandioca, batata, milho, cabrito, etc, inicialmente, em picadas abertas na mata, por onde traziam remédios, açúcar, arroz, entre outros víveres. Somente em 1959, por iniciativa de um grupo de moradores, foi aberta a primeira estrada de terra ligando Lumiar a Mury.

A partir dos anos 1970, a região começou a receber hippies, praticantes do montanhismo e seguidores de filosofias alternativas, que foram os primeiros a se integrarem e a interagirem com as famílias locais. Em 1977, Beto Guedes lança a música “Lumiar”, um grande sucesso entre os jovens da época, que contribuiu para tornar a vila conhecida nacionalmente, aumentando o fluxo de visitantes. O asfaltamento da RJ 142, em 1982, ligando Mury a Lumiar e, em 2006, a Casimiro de Abreu (Estrada Serramar), trouxe levas sucessivas de turistas e veranistas, além de famílias provenientes dos grandes centros urbanos que passaram a residir na região.

produtos-locais
festa-junina-sao-pedro-serra

Muitos descendentes desses primeiros imigrantes europeus ainda praticam em suas propriedades, lavouras onde o manejo se dá nos moldes dos antigos colonos, como nas roças de aipim, inhame, banana, na horta e nos canteiros de ervas, tradições e saberes que são preservados e remetem aos modos de vida de seus antepassados.

A utilização cotidiana destes produtos na culinária e o uso das ervas medicinais, fazem parte do incrível legado cultural dos moradores deste lugar. As comunidades expressam suas tradições nas festas de santos, juninas e de agricultores, como também em sua musicalidade e poesia nas rodas de viola, encontros de sanfoneiros e nos muitos forrós promovidos na região, além dos músicos e artistas que aqui fizeram sua morada.

Conservação Ambiental


A beleza da região fascina aos que chegam e aqueles que nela vivem, sendo um convite aos que buscam um lugar onde verdadeiramente se encontra “toda a paz do universo”, conforme diz a frase símbolo de São Pedro da Serra. Seus vales e montanhas, cobertas de matas bem preservadas, se renovam a cada época do ano em coloridos tons de verde, lilás, amarelo e rosa das floridas Quaresmas, Ipês, Paineiras e a prata das Embaúbas, entre tantas outras espécies da Mata Atlântica.

O desenvolvimento do Brasil, ao longo da história, está intimamente relacionado com a Mata Atlântica, nas suas diferentes fases de ocupação e exploração. O bioma Mata Atlântica apresenta características diversas, haja vista sua área que se estende do litoral às regiões montanhosas, do Nordeste ao Sul do país, o que contribui para uma rica e abundante biodiversidade, sendo considerado um hotspot mundial. Entretanto, encontra-se seriamente ameaçada de extinção, em virtude do contínuo processo de degradação. Assim, medidas para sua preservação e conservação são necessárias e urgentes.

Esse bioma representa 13% do território nacional, onde cerca de 58% da população brasileira reside, restando somente 15% da cobertura original que encontra-se altamente fragmentada. O estado do Rio de Janeiro é o segundo em número de espécies da fauna ameaçadas de extinção ou já extintas, atrás apenas do estado de São Paulo, e é na região serrana onde encontramos a maior quantidade de espécies remanescentes da Mata Atlântica.

A Mata Atlântica produz muitos benefícios para a população brasileira, denominados serviços ecossistêmicos, tais como: regulação do fluxo das águas na terra e no ar; a fertilidade e contenção dos solos e encostas; o controle do equilíbrio climático; o fornecimento de alimentos; a ciclagem de nutrientes; a biodiversidade genética; além da beleza cênica, do lazer e do ecoturismo; a geração de renda e qualidade de vida; a preservação ou conservação de um imenso patrimônio histórico e cultural; e outros.

A região do Altos da Serramar, Circuitos de Agroturismo é considerada “produtora de água” devido às águas cristalinas do rio Macaé, maior rio exclusivamente estadual no Rio de Janeiro, e de seus afluentes, como o Rio Bonito, e suas incontáveis nascentes. Aqui se escondem cachoeiras e locais bucólicos para agradáveis banhos de rio ou para simplesmente molhar mãos e pés.

A gestão das águas do Rio Macaé é feita pelo Comitê de Bacia Hidrográfica dos Rios Macaé e das Ostras (Comitê do Rio Macaé), que visa o seu aproveitamento sustentável e sua conservação, objetivando a manutenção da qualidade e a quantidade das águas para todos os usos.

Estas águas são utilizadas para as atividades agropecuárias, o turismo e o lazer na região serrana, além de abastecerem milhares de pessoas nos municípios de Macaé, Rio das Ostras e Casimiro de Abreu, na baixada litorânea. Também são fundamentais para o processo produtivo da indústria de petróleo e gás e para geração de energia elétrica nas duas usinas termelétricas, situadas em Macaé.

5 Cons
5 Cons. Amb._paisagem

A região apresenta um relevo fortemente acidentado, composto por altitudes que variam em torno de 600 a 1.600 metros, o que concilia magnificamente o clima ameno do verão com o frio aconchegante do inverno, com temperaturas médias de 24°C e 13°C.

As formações florestais da região são denominadas Floresta Ombrófila Densa, caracterizada essencialmente por atributos climáticos de temperatura e chuvas, devido à sua posição e altitude em áreas próximas ao litoral, o que contribui para uma elevada umidade. Essas condições climáticas são favoráveis à atividade biológica e influenciam à alta biodiversidade destas florestas. Além das formações florestais, podemos encontrar também os Campos de Altitude.

O conhecimento da vegetação desta área da região serrana do Rio de Janeiro teve o protagonismo do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), que identificou elevada riqueza da flora local, muitas espécies endêmicas e a redescoberta de espécies que já eram consideradas extintas.

Espécies que são encontradas em abundância são a Embaúba (Cecropia), a Quaresmeira (Tibouchina), o Açoita-Cavalo (Cupania oblongifolia), o Camboatá (Cupania spp) e, quase sempre presentes nas margens dos riachos, a Carrapeta (Guarea guidonia e Guarea macrophylla) e a Palmeira Jussara (Euterpe edulis), assim como outras espécies com potencial econômico para vários usos, como alimentação, combustível, medicinal e ornamentação. Destacamos a Palmeira Jussara, ameaçada de extinção pela exploração do palmito, conhecida também como o açaí da Mata Atlântica, de uso alimentício e artesanal.

Várias espécies animais são relatadas na região, podendo-se destacar: gato-do-mato (Leopardus tigrinus), preguiça (Bradypus variegatus), onça parda (Puma concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis), tamanduá mirim (Tamandua tetradactyla), sagui da serra escura (Callithrix aurita), araçari banana (Pteroglossus bailloni), bugio (Alouatta guariba), paca (Cuniculus paca), preá (Cavia aperea), tatu (Dasypus novemcinctus), veado-mateiro (Mazama americana), maritaca (Família Psittacinae), siriema (Cariama cristata), canário-da-terra (Sicalis flaveola), sabiá laranjeira (Turdus rufiventris), jacu (Penelope sp.); gambá (Didelphis marsupialis); entre muitos outros.

Destas espécies citadas, várias estão ameaçadas de extinção. O grupo com maior riqueza de espécies na região é o de aves, incluindo duas das cinco espécies endêmicas do Rio de Janeiro, também ameaçadas de extinção (Tijuca condita e Myrmtherula fluminensis), além de 144 espécies endêmicas da Mata Atlântica.

Uma das ameaças à biodiversidade da região é a introdução de espécies exóticas, o que é apontado como a segunda maior causa da destruição da diversidade biológica, precedida apenas pela degradação do habitat por atividades humanas. Alguns exemplos de espécies introduzidas na região são: o gato, a truta arco-íris; o pombo; o galo e o cachorro. Outras ameaças à natureza local são: a especulação imobiliária; a falta de saneamento básico; a caça; e o desmatamento.

As propriedades integrantes do Altos da Serramar estão dentro da Área de Proteção Ambiental Estadual de Macaé de Cima (APAMC), ou em seus arredores, uma Unidade de Conservação da Natureza de Uso Sustentável, que tem como objetivos:

• Preservar, conservar e proteger a Mata Atlântica, sua fauna e flora;
• Preservar as inúmeras nascentes e rios;
• Promover o desenvolvimento com a utilização de práticas agrícolas ambientalmente sustentáveis;
• Conservar a cultura local;
• Apoiar alternativas para geração de renda e turismo sustentável.

O território da APAMC é uma das principais áreas de remanescentes de Mata Atlântica do Rio de Janeiro, com grande importância para a conservação desse bioma.

Os principais centros urbanos da APAMC são as vilas de Lumiar e São Pedro da Serra, mas também envolvem outras vilas, como Macaé de Cima, Rio Bonito de Lumiar, Toca da Onça, Galdinópolis, Benfica, Boa Esperança, entre outras.

Os Planos que orientam a gestão ambiental da bacia do Rio Macaé e da APAMC estimulam às práticas sustentáveis, como as que são desenvolvidas nas propriedades desta rede, que funcionam como fonte de renda e promovem um turismo sustentável, ético e atrelado à cultura local.

Preguica

Respeite a natureza! “Não tire nada além de fotos. Não mate nada além de tempo. Não deixe nada além de pegadas. Não leve nada além de saudades!”