Agricultura Familiar e Agroecologia

A agricultura familiar local é uma atração de perfumes, texturas, cores e sabores para seus visitantes. Retirar da terra o aipim e o inhame, colher folhas de taioba ou de couve ainda molhadas pelo orvalho, sentir os aromas das ervas de chás e temperos, pegar uma fruta no pé ou colher mel do próprio favo, são prazeres divinos para deleite de todos.

Caminhar pelas propriedades dos circuitos, prosear e escutar as muitas histórias de seu povo, saborear suas delícias à beira de um fogão de lenha, como um feijãozinho da terra, são momentos inesquecíveis.

As peculiaridades da região montanhosa e as práticas agrícolas adotadas limitaram a ocupação dos cultivos às áreas mais acessíveis, formando uma paisagem peculiar, onde plantações e pastos para pequenas criações de bois e cabras terminam nas partes altas das propriedades, junto à vegetação nativa que não foi totalmente retirada. Isso permitiu a conservação de áreas de floresta de grande beleza.

Os imigrantes desenvolveram a agricultura nesta região dedicada à cafeicultura, à produção de subsistência e à criação de bois, aves e porcos. Com o declínio do café, nos anos 1930/40, passaram a comercializar inhame, banana, feijão, mandioca, entre outros. Os primeiros agricultores desenvolveram um modelo de agricultura migratória e de “pousio”, de herança indígena.

Essa prática alterna períodos em que se cultiva a terra produzindo de 2 a 4 anos, dependendo da fertilidade, por períodos em que a terra fica em “descanso”, para regeneração. Antigamente, o intervalo para o descanso variava de 4 a 10 anos, para a recuperação da fertilidade do solo, de forma gradual e espontânea. Após essa etapa do pousio, retirava-se a vegetação das áreas em descanso, fazendo-se a queimada controlada por “aceiros” (faixas de terra limpa de vegetação, margeando a área a ser queimada, de

forma a conter o fogo), para eliminar arbustos e espinhos, tornando a terra agricultável. Essa prática é comum nas populações originárias brasileiras, denominando-se agricultura tradicional.

Estudos científicos já comprovaram sua sustentabilidade, pois disponibiliza tempo suficiente para regeneração dos solos, sem o uso de agroquímicos A partir dos 1970, com a denominada revolução verde, iniciou-se a mudança das práticas agrícolas com a introdução dos adubos químicos, agrotóxicos e sementes industrializadas, hoje chamada de agricultura convencional.

Com a implementação das leis de proteção ambiental, na década de 1990, restringiu-se a prática do pousio e queimada pelos agricultores, sob a justificativa de que promoviam o corte da vegetação em regeneração da Mata Atlântica.

A criação da Área de Proteção Ambiental Estadual de Macaé de Cima (APAMC) em 2001, intensificou os conflitos entre os agricultores e órgãos de fiscalização ambiental, que passaram a agir com rigor, multando os agricultores que utilizavam as suas práticas tradicionais de manejo nas “áreas de pousio”.

Em decorrência, muitos agricultores abandonaram a agricultura tradicional e se adaptaram à agricultura convencional que é mais nociva ao ambiente e ao ser humano, pelo uso dos agrotóxicos. Atualmente, são praticadas as três formas de agricultura na região: “orgânica e agroecológica”, “tradicional” e “convencional”.

Recentemente, novas regulamentações passaram a permitir o pousio, desde que demarcada a área junto aos órgãos ambientais, facilitando a regeneração natural dos solos e a redução no uso de agroquímicos, resultado de encontros entre agricultores, pesquisadores, técnicos e o Instituto Estadual do Ambiente – INEA.

Os altos custos da produção, devido ao uso de defensivos químicos, e a demanda turística, fizeram com que alguns agricultores se tornassem pluriativos, exercendo outras atividades relacionadas ao turismo, à construção civil, ao comércio, a confecção de moda íntima, além do aluguel de casas.

Por se tratar de uma localidade em que sua população tradicional, durante décadas, conciliou a agricultura com a conservação das florestas e nascentes, por meio de técnicas menos agressivas ao ambiente e à saúde dos lavradores, do que àquelas utilizadas na agricultura convencional com seus agrotóxicos, faz-se necessário promover um diálogo de saberes com o resgate de antigas práticas e sabedorias populares, consorciadas ao conhecimento técnico-científico.

A agroecologia é a alternativa para a promoção dessa agricultura sustentável, pois se baseia nas interações dos seres humanos com o ambiente, respeitando

a ecologia local, os animais, as plantas, os agricultores, os consumidores, os saberes tradicionais e o conhecimento técnico-científico, buscando o equilíbrio entre o ser humano, as suas atividades agropecuárias e a natureza.

A agroecologia na região vem ganhando força por meio de inúmeras iniciativas da população tradicional e dos chamados “neo rurais”, pessoas que vieram dos centros urbanos em busca de espaço rural para novas criações e oportunidades, com melhor qualidade de vida. As propriedades deste coletivo desenvolvem projetos criativos e inspiradores de agroecologia, sintropia e permacultura.